terça-feira, 11 de agosto de 2009

Graffiti





Outros Nomes
Esgrafiado, Graffite, Graffito, Grafite, Grafito, Grafitos, Sgraffite e Sgraff
As inscrições em muros, paredes e metrôs - palavras e/ou desenhos -, sem autoria definida, tomam a cidade de Nova York, já no início da década de 1970. Em 1975, a exposição Artist's Space, na mesma cidade, confere caráter artístico a parte dessa produção, classificada como graffiti. A palavra, do italiano graffito ou sgraffito ("arranhado", "rabiscado") é incorporada ao inglês no plural (graffiti) para designar uma arte urbana, com forte sentido de intervenção na cena pública. Giz, carimbos, pincéis e, sobretudo, spray são instrumentos para a criação de formas, símbolos e imagens em diversos espaços da cidade. O repertório dos artistas é composto por ícones do mundo da mídia, do cartum e da publicidade, o que evidencia as afinidades do graffiti com a arte pop, e com a recusa em separar o universo artístico das coisas do mundo. Os grafiteiros remetem às origens de sua arte às pinturas pré-históricas e às inscrições nas cavernas. Nos termos de Keith Haring (1958-1990), um dos principais expoentes do graffiti nova-iorquino: "Decidi voltar ao desenho, que mudou pouco desde a pré-história e ainda guarda a mesma origem". A definição e reconhecimento dessa nova modalidade artística obrigam ao estabelecimento de distinções entre graffiti e pichação, corroboradas por boa parte dos praticantes. Apesar de partilharem um mesmo espírito transgressor, a pichação aparece associada nos discursos críticos a uma produção essencialmente anônima, sem maior elaboração formal e realizada, em geral, sem projeto definido. No graffiti, por sua vez, os artistas explicitariam estilos próprios e diferenciados, mesclando referências às vanguardas e outras relacionadas ao universo dos mass midia. Cabe lembrar que vários artistas modernos - Brassaï (1899-1984), Antoni Tàpies (1923), Alberto Burri (1915-1995) e Jean Dubuffet (1901-1985), entre outros - também incorporam elementos dos grafitti às suas obras.
A produção de Keith Haring se caracteriza pela ironia e crítica. No início dos anos 1980, suas imagens em giz ocupam as superfícies negras das paredes do metrô, destinadas a cartazes publicitários. Bebês engatinhando, cachorros latindo, figuras magricelas etc. são marcas características do artista. Em 1982, o mural com cores fluorescentes no Lower East Side e a animação para painel eletrônico na Times Square, Nova York, projetam o nome do artista, que irá desenvolver, a partir de então, projetos fora dos Estados Unidos: entre eles, o trabalho realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ (1984) e a intervenção no Muro de Berlim (1986). As telas de Haring - por exemplo, Portrait of Macho Camacho (1985) e Walking in The Rain (1989) - guardam semelhanças com os graffiti, seja pela manutenção da linha solta das inscrições e rabiscos, seja pelo repertório mobilizado.
Jean-Michel Basquiat (1960-1988) é outro nome importante dessa modalidade de produção artística. Basquiat enfatiza as ligações do graffiti com o hip hop e com o mundo underground dos pichadores, que o trabalho de Haring anuncia. Original de uma família haitiana, Basquiat enraíza sua arte na experiência da exclusão social, no universo dos migrantes e no repertório cultural dos afro-americanos. Ao longo dos anos 1970, seus "textos pintados" tomam os muros do Soho e do East Village em Nova York, redutos de intelectuais e artistas, e fazem dele um artista conhecido. Mas será na década seguinte que a caligrafia visual de Basquiat - com suas referências à anatomia humana, ao rap, ao break dance e à vida nova-iorquina de modo geral - passa a ser reconhecida, sobretudo em função de sua colaboração com Andy Warhol (1928-1987), em Arm and Hammer (1985), por exemplo.
As obras de Haring e Basquiat tornam-se referências para experimentos com graffiti realizados em grandes cidades de todo o mundo. Em São Paulo, as imagens de Alex Vallauri (1949-1987) - figuras das histórias de quadrinhos, carrinhos de supermercado, o jacaré da marca Lacoste etc. - começam a ser identificados, entre 1978 e 1979. Ao lado dele, destacam-se os trabalhos de Waldemar Zaidler (1958) e de Carlos Matuck (1958). O grupo Tupinão Dá (1986) - Carlos Delfino, Jaime Prades (1958), Milton Sogabe (1953), José Carratu etc. - é outra referência importante quando o assunto é o graffiti em São Paulo. O grupo realiza performances e grafitagens pela cidade em toda a década de 1980. A Bienal Internacional de São Paulo de 1987 abre espaço para esta produção, ao exibir uma parede pintada pelo grupo. Os adeptos do graffiti entre nós reconhecem o seu débito em relação à arte pop e às experiências dos artistas norte-americanos.

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