quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Teatro do Oprimido de Augusto Boal




Histórico movimento teatral e modelo de prática cênico-pedagógica criada e desenvolvida por Augusto Boal nos anos 1970. Possui características de militância e destina-se à mobilização do público, vinculando-se ao teatro de resistência.
Para fazer frente à censura e à repressão desencadeadas pelo AI-5, Boal incrementa sua aproximação com as propostas de Bertolt Brecht. Inspirado na peça didática, monta Teatro Jornal, 1971, com o Núcleo 2 do Teatro de Arena. A encenação, aberta ao improviso, utiliza notícias do dia, comentadas pelos atores sob diversos modos. Outros textos também são utilizados para polemizar, extrair contradições e pontos de vista divergentes contidos num mesmo relato. Chega, desse modo, a uma crítica global das formas narrativas tradicionais, exposta no texto O Sistema Trágico Coercitivo de Aristóteles, no qual tece as bases de sua proposta e faz críticas à Poética.
Em exílio, iniciado em 1971, percorre diversos países da América Latina. No Peru, em 1973, participa de uma campanha de alfabetização, ocasião para novas experiências e aprofundamento conceitual. Seguindo Paulo Freire, que propunha uma pedagogia elaborada pelos e não para os oprimidos, Boal aspira criar uma prática teatral revolucionária, que incite os oprimidos a lutarem pela sua libertação. Chega então às formas do teatro invisível e do teatro foro, cujo esquema dramatúrgico é basicamente o mesmo: uma cena curta contendo uma situação de opressão é apresentada para, num momento seguinte, o ator que desempenha o papel de oprimido ser substituído por um voluntário da platéia. Este deverá, improvisando, trazer saídas válidas que contornem ou destruam a fonte opressora.
Em países europeus, onde a repressão dá-se em níveis mais sutis, Augusto Boal desenvolve o teatro imagem e o arco íris do desejo, variantes que enfocam aspectos subjetivos e interpessoais da sociedade (preconceitos raciais ou a opressão machista, por exemplo), ampliando o perfil psicoterapêutico do teatro do oprimido e vinculando-o às lutas das minorias.
Nas décadas de 1970 e 1980 o diretor reside na França e cria centros de difusão do oprimido em muitos países da Europa e de outros continentes. Ao voltar para o Brasil, em 1983, difunde o movimento do oprimido e funda o Centro do Teatro do Oprimido em 1986. Eleito vereador do Rio de Janeiro em 1992, cria o teatro legislativo, outra variante de suas propostas. Entre 1993 e 1996 são trabalhados perto de quarenta projetos, dos quais treze são promulgados e se transformam em leis.
O Teatro do Oprimido congrega hoje grupos em todo o Brasil, com ênfase no Estado do Rio de Janeiro, especialmente vinculados às ações pela cidadania. Difundido em todo o mundo, estudado por teóricos de áreas variadas, foi comemorado com a grande exposição Augusto Boal: Os Próximos 70 Anos, em março de 2001, no Rio de Janeiro.
Do ponto de vista artístico, o oprimido pode ser alinhado às experiências militantes das vanguardas russa e alemã dos anos 30 (a proletkult, o agit-prop e os blusões azuis), e à atuação da San Francisco Mime Troup e do Teatro Campesino, nos Estados Unidos dos anos 1960. Sociologicamente, representa uma variação politizada do sociodrama, vertente que nos anos 60 desenvolve-se como o equacionamento cênico dos conteúdos sociais, a partir do psicodrama de Moreno, de 1930. Do ponto de vista ético, como uma variante mais restrita da peça-didática brechtiana, uma proposta que une o teatro à pedagogia de ação direta.

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