terça-feira, 17 de março de 2009

Teatro e Cinema Expressionista







Imagens: O Grito (quadro de Edvar Munch); O Vampiro de Dusseldorf(1931), Filme de Fritz Lang: O Gabinete do Dr. Caligari, filme de R. Wiener e Cena da peça O Homem-Massa, de Ernst Toller

O Expressionismo no Teatro é importante assinalar os nomes de Reinhard J. Sorge, Carl Sternheim, Ernst Toller ( O Homem-massa estréia em 1921), Georg Kaiser, Frank Wedekind ( O Despertar da Primavera, A Caixa de Pandora). O Teatro expressionista é antiibseniano, porque quer ser anti-realista; dispensa a imitação da fala coloquial e dos ambientes familiares no palco; fala em estilo poético ou declamatório e prefere cenários fantásticos, que já não são mero fundo da ação teatral, mas participam dela como se fossem personagens mudos.
Tudo isso não está, porém, a serviço de um teatro poético, mas de propaganda de idéias: em vez do individualismo quase anarquista de Ibsen, o Socialismo e o Comunismo; em vez do ceptismo ibseniano, uma religiosidade livre, mas esperançosa; em vez do feminismo de Ibsen, a luta dos sexos e das gerações, o homem defendendo-se das mulheres e os filhos em revolta contra os pais, atitudes apoiadas em teorias psicanalíticas. É um teatro revolucionário e, ao mesmo tempo, fantástico.
O criador do teatro expressionista foi o sueco Strindberg, que depois de uma fase de naturalismo extremado caiu no extremo oposto, de teatro simbólico-religioso. Sua influência, pouco sensível na França e na Inglaterra, foi grande na Rússia e nos E.U.A., mas sobretudo na Alemanha. Ali já tinha, independente do sueco, o ator Wedekind criado um teatro pré-expressionista, com a luta dos sexos como tema principal e com a característica interpretação fantástica de ambientes aparentemente reais. Depois de 1918, o Expressionismo conquistou o teatro alemão. Suas figuras principais são Georg Kaiser (1878-1945), de inesgotável força inventiva, mestre de sutil construção dialética, e o revolucionário Ernest Toller (1893-1939); Sorge (1892-1916), vítima da guerra, escreveu duas peças religiosa à maneira do último Strindberg. Unrush (n.1885) e Hasenclever (1890-1941) atacaram a velha geração e o militarismo. Já é pós-expressionista Zuckmayer (n.1896), de um alegre radicalismo político. Na Dinamarca, Kaj Munk (1898-1944) combinou pietismo religioso e veemente tendência anti-racista e antiditatorial. Um centro do Expressionismo fantástico no teatro é a Bélgica: Ghelderode (n.1898) em língua francesa; Herning Hensen (n.1917) em língua flamenga. Na Irlanda, onde Lady Gregory tinha fundado o Abbey Theatre de Dublin como centro de cultura dramática nacional, o grande representante do Expressionismo é O'Casey (n.1884).

No Cinema, os filmes expressionistas vão trazer à tona esse mundo que se tornou tão permeável, que a todo momento parecem brotar, ao mesmo tempo, o espírito, a visão e os fantasmas; sem cessar, fatos exteriores se transformam em elementos interiores e incidentes psíquicos são exteriorizados: "resta-nos falar da fonte inesgotável de efeitos poéticos na Alemanha: o terror, as almas de outro mundo e os feiticeiros agradam tanto ao povo quanto aos homens esclarecidos". (Madame de Stael) Alguns diretores do cinema expressionista: Fritz Lang ( Metrópolis, A Morte Cansada, O Vampiro de Dusseldorf, O Testamento do Dr. Mabuse, Os Espiões, Os Nibelungos I e II); Robert Wiene (O Gabinete do Dr. Galigari, Genuine, A Tragédia do Gólgota); F. W. Murnau (Nosfertu, Fausto, Terra em ChamasFantasma, O Último Homem, Tartufo); Paul Wegener e Henrik Galeen ( O Golem); Stellan Rye ( O Estudante de Praga); Pabst (A Caixa de Pandora); Luper Pick ( A Noite de São Silvestre); Hans Kobe ( Torgus). O universo expressionista no teatro e no cinema - assegurar expressividade máxima, atingir diretamente o público, fazer de cada elemento cênico, do ator, do cenário, da luz e da música, um "elemento de choque", um elemento "que age", portador do "grito da alma", eis o que povoa o universo expressionista no teatro e no cinema. Uma reação violenta contra o realismo e o naturalismo, contra as aparências da realidade material, buscando "desnaturalizar a cena", desembaraçar a cena de todo caráter descritivo, de toda imitação realista para exprimir aí "a essência do drama", pelo jogo antinaturalista do ator, o simbolismo do objeto, da linha, da cor e da iluminação cênica. Permitir ao espectador, não captar o lugar de uma ação, seu quadro, mas o "acontecimento", a realidade profunda do drama.

Algumas características da linguagem expressionista: A nostalgia do claro-escuro (a cena será mantida ora na penumbra, ora riscada por feixes luminosos, ora animada por violentos contrastes, modificando-se as cores) e das sombras (projetar sombras sobrenaturais e aumentar a tensão patética), reflexos em espelhos deformantes, distorções, a luz e a escuridão desempenham o papel do ritmo e a cadência da música, a cor é uma tonalidade afetiva, pesada ou leve, triste e doce, mística e clara. Escadas, corredores escuros e desertos, redução do espaço cênico ao essencial, jogar fora tudo que é decorativo, cenas que trabalhem com o "vazio", espaço dinâmico, espaço rítmico, o cenário deve jogar "com", o corpo do ator constrói o cenário. Linguagem entrecortada, estilo telegráfico; frases curtas; exclamações breves; ampliação do sentido metafísico da palavra; expressões vagas; linguagem carregada de símbolos e metáforas; ligeira hesitação antes de pronunciar uma palavra; ênfase à "musicalidade da palavra", independente de seu valor lógico e gramatical. O ator expressionista representa fisicamente. O corpo humano, forma e volume, adapta-se ao estado de alma, tornando-se sua tradução plástica. Não se trata mais de encarnar este ou aquele personagem, de revelar situações, mas de traduzir estados de alma, de sublinhar as características fundamentais dos personagens e dos momentos essenciais da ação. Uma arte não de encarnação, mas de revelação. Movimentos abruptos e ásperos; interrupção do movimento em pleno curso; distância dos modos naturalistas - "que o ator ouse estender o braço de maneira grandiosa e coloque todo seu enlevo declamatório numa frase, com decerto jamais faria na vida cotidiana; que não seja de forma nenhuma imitador". O ritmo de um grande gesto tem um caráter muito mais carregado de sentido e emoção que o comportamento natural. Movimentos entrecortados; deformação dos gestos e dos rostos; imagens impregnadas de atmosfera; gestos que não se concluem, bastando um esboço para indicar-lhe o sentido; seqüência de élans e de rupturas.
Na Música – Intensidades de emoções e distanciamento do padrão estético tradicional marca o movimento na música. A partir de 1908, o termo é usado para caracterizar a criação do compositor austríaco Arnold Schoenberg, autor do método de composição dodecafônica. Em 1912, compõe Pierrot Lunaire, que rompe definitivamente com o Romantismo. Schoenberg inova com uma música em que todos os 12 sons da escala de dó a dó têm igual valor e podem ser dispostos em qualquer ordem a critério do compositor

No quadro "O Grito" de Munch, que encontramos um grande marco do expressionismo. A deformação da figura chegou a um limite desconhecido para a época. O homem em primeiro plano, com a boca em grito e as mãos pressionadas sobre os ouvidos para não escutar o próprio grito incontido, que é também grito da natureza, reduz-se a uma mísera aparência ondulante numa paisagem de delírio. Tudo está voltado para a expressão: desenho, cor, composição. Munch diz: "ouço o grito da natureza". O expressionismo, da forma como ele se articulou dentro da história da arte moderna, aparece como o movimento mais rico e complexo. Em grande parte, podemos dizer, a arte moderna está mergulhada numa "condição expressionista", pois a maior parte dos artistas contemporâneos sentiram e sentem os temas do expressionismo como seus. Assim, podemos dizer, que o movimento expressionista, em seu conjunto não foi um movimento "formalista", mas de "conteúdos". Um movimento que integrou em si todas as expressões artísticas, nas suas mais diversas manifestações e que até hoje nos traz o eco do seu grito: o grito da alma humana.

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